A fibra de conteira tem várias aplicações, cuja utilização mais óbvia é como matéria-prima para os têxteis. Por outro lado, as fibras de conteira podem também ser usadas em setores industriais, utilitários do dia-a-dia, embalagens, fabrico de papel, e materiais compósitos com muitas e variadas aplicações, incluindo o fabrico de estruturas para a construção civil e até painéis do habitáculo de automóveis.
“Um material compósito de origem renovável, biodegradável, que incorpore, como fase de reforço as fibras de conteira, como substituição do uso de fibras de vidro e de carbono, combinadas com o uso de matrizes, também elas biodegradáveis (e.g. biopolímeros), é uma alternativa possível que está presentemente a ser investigada pelo nosso grupo de investigação (Universidade dos Açores – Departamento de Ciências da Física, Química e Engenharia – Departamento de Biologia)”, conta Helena Cristina Vasconcelos.
Estes materiais avançados constituem, assim, uma alternativa ao aço, à madeira ou ao plástico e, por conseguinte, uma solução viável para componentes estruturais em áreas como engenharia, medicina, desporto, arquitetura, design, entre outras.
A professora e investigadora da Universidade dos Açores destaca ainda que “de momento, e no seguimento dos estudos preliminares que temos realizado, as fibras da conteira, extraídas do caule da planta, têm sido usadas no fabrico de compósitos, em:
Objetos utilitários do dia-a-dia, nomeadamente peças e artigos de utilização descartável (ex. pratos, copos, tigelas, talheres, etc.); cuvetes de base ao acondicionamento e empacotamento de alimentos (ex. vegetais frescos, carnes e frutas, entre outros) com a possibilidade decorar as superfícies com pinturas alusivas à preservação ambiental, cultura, marcas, regiões, turismo ou empresas, etc.
Papel ou papelão (com diferentes cores, texturas e espessuras)
Briquetes de elevado poder calorífico, para a produção de energia, em alternativa à lenha e ao carvão”
A importância da exploração da Fibra de Conteira
A utilização deste recurso natural no desenvolvimento de produtos de valor acrescentado é ainda considerada por alguns investidores como algo novo na ciência necessitando, por isso, de mais esclarecimento e aprofundamento, especialmente no que respeita aos mercados dos produtos naturais, que contam já com a concorrência de artigos similares já consolidados no mercado como são exemplo as fibras de sisal, de cânhamo, da folha do ananás, entre outras.
Ainda assim, é já internacionalmente reconhecida a importância da valorização da conteira. “A Comunidade Europeia, através dos Programas Operacionais Horizonte 2020, é objetiva nesta matéria, bem como o já anunciado compromisso da ONU – Agenda 2030. Daí a incontestabilidade dos estudos e ensaios científicos direcionados ao aproveitamento e valorização da conteira” – salienta Helena Vasconcelos.
Para a Região dos Açores, segundo Helena Cristina Vasconcelos, “consideramos [investigadores da Universidade dos Açores] ser urgente e importante, em primeira instância, projetar os Açores como uma das regiões do mundo pioneira na promoção da formação e qualificação da investigação de base científica e tecnológica na ciência dos materiais, e consequentemente na criação de riqueza”.
Em termos globais, a educação, no que concerne aos valores ambientais e o equilíbrio desejado na biodiversidade, justifica um audaz empenho da sociedade na valorização da conteira. Esta questão é “incontestável, indiscutível e de aceitação universal” assegura a professora da Universidade dos Açores.
A operacionalização do projeto da valorização da conteira potenciará conjugados esforços entre diversas entidades, congregando centros de investigação, sociedade civil e governo numa exemplar iniciativa de interligação e aproveitamento de sinergias e recursos.
“Uma colaboração essencial”
A Fibrenamics Azores promoveu recentemente, juntamente com a Universidade dos Açores, um workshop no polo de Angra do Heroísmo da Universidade dos Açores, financiado pela DRCT, e com a colaboração do Centro de Biotecnologia dos Açores, Fundação Gaspar Frutuoso e o SINEGE, onde se debateram formas inovadoras de passar ideias ou produtos, com origem na investigação feita nas Universidades e Centros de Investigação, para o mercado.
A colaboração entre a Universidade dos Açores e a Fibrenamics Azores “tem-se revelado essencial para o crescimento do nosso projeto” salienta Helena Cristina Vasconcelos. “Sendo a Universidade do Minho atualmente detentora de um enorme know-how em fibras naturais e nas suas mais recentes e inovadoras aplicações, apraz-nos dizer que o acompanhamento e o aconselhamento que nos têm prestado, não só como parceiros de projetos, mas também como dinamizadores do conceito “da natureza para o mercado”, é para nós um enorme privilégio e também uma oportunidade, enquanto investigadores e docentes da Universidade dos Açores, de colaborar e partilhar interesses comuns com outros cientistas de renome internacional e com laboratórios de investigação do top mundial”, acrescenta ainda.
A participação na Comissão Científica do ICNF 2015 – International Conference on Natural Fibers, realizada em Ponta Delgada, abriu a porta aos Açores para o mundo das fibras e, no seguimento desse evento, muitas outras iniciativas foram surgindo.
No âmbito desta parceria com a Fibrenamics, “o nosso grupo estará certamente representado na ICNF2017, cujo tema é ‘Materiais Avançados para um mundo mais verde’, com novos desenvolvimentos acerca do potencial das fibras da conteira na construção de um mundo mais verde para as futuras gerações”, remata Helena Cristina Vasconcelos.