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Economia Circular | Inovar é a chave

Sílvia Vara | ISQ

Artigo de Opinião

O conceito de sustentabilidade ambiental tornou-se um conceito tangível há cerca de 40 anos. É atualmente encarado como o meio através do qual podemos quebrar a relação entre o crescimento de uma atividade económica e os impactos negativos que produz.

A evolução do conceito, quer do ponto de vista das políticas criadas a nível mundial, quer a nível empresarial fez amadurecer outros conceitos que gravitam em seu redor e que compõem as ramificações da árvore da sustentabilidade ambiental, conceitos que têm por princípios combater a escassez dos recursos e harmonizar o crescimento económico com a preservação da natureza:

Ecoeficiência, ecodesign, construção sustentável, eficiência hídrica, eficiência energética, energias renováveis, reciclagem, reutilização, mobilidade sustentável, entre outros…

Adotando a sustentabilidade como um fator de competitividade, muitas empresas deram passos para a criação de um futuro ambientalmente mais sustentável, quer por via do cumprimento da legislação que surgiu nesta área, que por aplicações e práticas voluntárias no âmbito das várias ramificações da árvore da sustentabilidade.

Apesar deste esforço e da sustentabilidade “andar nas bocas do mundo” há quase quatro décadas, teremos feito o suficiente? Estaremos a agir à velocidade desejável?

A questão é que 40 anos depois, a economia mundial continua a ser construída com base num modelo linear de negócios (extrair, transformar, descartar), que agora se anuncia comprovadamente ameaçado devido à disponibilidade limitada de recursos naturais. Alguns autores afirmam mesmo que se continuarmos a usar os recursos à taxa de crescimento atual, necessitaremos de mais três planetas até 2050 – o mesmo tempo desde que surgiu o conceito de sustentabilidade ambiental.

Em concordância com esta constatação assistimos atualmente a uma mudança de paradigma.

Desta mudança emerge um conceito que abraça todos os ramos da árvore da sustentabilidade e que faz crescer outras ramificações. É considerado o caminho para o desenvolvimento sustentável. Um novo e enorme desafio, cheio de oportunidades: A Economia Circular.

Considerada por vários autores como primeiro novo e verdadeiro paradigma económico desde o início do capitalismo no século XIX, a ideia que está na base da Economia Circular é simples:

“Manter o valor dos produtos, componentes e materiais no mais alto nível possível em todos os momentos do ciclo de vida, eliminar a própria ideia de desperdício, fazer isto usando menos recursos e de forma mais eficiente e produtiva.”

Para completar esta definição surge “the ReSOLVE framework”. O ReSOLVE, tendo por base os princípios da circularidade (preservar e aumentar o capital natural, otimizar a produção de recursos e fomentar a eficácia do sistema), cria seis alavancas para a Economia Circular: ReGenerate, Share, Optimize, Loop, Virtualise, Exchange.

Repensar a forma como se organiza a produção e o consumo, as novas tecnologias e os modelos de negócios necessários, apresenta-se como uma das maiores oportunidades de negócio e o maior desafio da próxima década. Para fazer faze a este desafio, o ReSOLVE revela-se uma ferramenta de grande utilidade para as empresas pois permite compreender quais as ações a tomar, bem como calcular os respetivos custos e benefícios.

A Economia Circular abre assim um grande espaço para a inovação com natureza disruptiva em toda a cadeia de valor e oferece um sem número de oportunidades. No modelo de economia Circular, inovar é a chave.

Relembrando a Lei de Difusão da Inovação que identifica os perfis de adoção de diferentes processos de inovação e que estes obedecem a uma curva:

A Lei de Difusão da Inovação explica como uma nova ideia ou tecnologia é recebida pelo mercado e apresenta a difusão da inovação de uma forma bastante simplificada.

A curva divide-se em vários grupos:
– Innovators
– Early Adopters
– Early Majority
– Late Majority
– Laggards

O ponto de inflexão da curva representa o ponto antes do qual qualquer ideia ou tecnologia é aceite pela massa crítica do mercado e localiza-se confortavelmente entre os primeiros adotantes e a maioria inicial. Até que a ideia ou tecnologia não atinja o ponto de inflexão, não conseguiremos a entrada na grande massa do mercado.

Khor Alex, inspirado por Simon Sinek e por Seth Godin, apresenta uma ideia interessante ao afirmar que existem 3 tipos de grupos no mundo:
– The ones who play the game
– The ones who watch the game
– The ones who have no idea that the game is being played

Transpondo esta afirmação para os vários grupos da curva da Lei de Difusão da Inovação:
– 2,5% Innovators – The ones who play the game
– 13,5% Early adopters – The ones who play the game
– 34% Early Majority – The ones who watch the game
– 34% Late Majority – The ones who watch the game
– 15% Laggards – The ones who have no idea that the game is being played

O modelo de Economia Circular está ainda no seu primeiro estágio (2,5% Innovators). O setor público, grandes, pequenas, médias e microempresas por todo o mundo começam a adotar práticas que promovem este modelo, outros tantos players desenvolvem processos de investigação para criar soluções inovadoras e as instituições decisoras a nível mundial e em particular as europeias estabelecem novas regras (European Commission’s 2015 circular economy package).

Conhecer os mercados que começam a emergir em torno do modelo de Economia Circular, como esses mercados receberão o produto ou serviço, em que segmento da curva de difusão da inovação nos encontramos e ser capazes de mudar a estratégia de atuação em função dessa posição, revelam-se atitudes que irão conferir uma grande vantagem competitiva às empresas de todos os setores de atividade.

Entidades como o ISQ e a Universidade do Minho, através da sua plataforma Fibrenamics e o Centro para a Valorização de Resíduos, são instituições que têm vindo a promover a inovação no domínio da Economia Circular, através de inúmeros projetos desenvolvidos e implementados e das suas atividades de investigação totalmente focadas no setor empresarial.

Posicionam-se no grupo 2,5% Innovators, à semelhança das empresas a que dão suporte, e assumem-se como instituições que pretendem acelerar e apoiar as empresas na transição para uma Economia Circular.

E a sua empresa, em que estágio se encontra?

Sílvia Vara
Gestor de projeto PO SEUR| ISQ2020