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NIDYARN – Núcleo de I&D para fios funcionais de elevado desempenho

NIDYARN

O projeto “NIDYARN – Núcleo de I&D para fios funcionais de elevado desempenho” está a ser promovido pela Inovafil Fiação, S.A., em parceria com o 2C2T – Centro de Ciência e Tecnologia Têxtil e a Plataforma Internacional Fibrenamics da Universidade do Minho, e tem como principal objetivo a constituição de um núcleo de investigação e desenvolvimento no âmbito dos fios de elevado desempenho funcional, para utilização em produtos têxteis técnicos.

Um núcleo capaz de responder aos desafios colocados

O NIDYARN surgiu da enorme necessidade do mercado em ter fios com características inovadoras e voltadas para as reais necessidades dos produtos. Neste sentido, pretendeu-se constituir uma estrutura de I&D capaz de identificar e responder aos desafios colocados no que respeita a estas estruturas fibrosas filiformes, considerando essas necessidades e os avanços científicos e tecnológicos que se têm verificado ao longo dos últimos anos em diversos domínios, como a nanotecnologia, a biologia sintética, a funcionalização de materiais, entre outros.

O núcleo ambiciona, desta forma, concentrar e reforçar as competências na área dos fios nanotecnológicos de elevado desempenho funcional, através da criação de uma sólida e coerente estrutura com base nas competências da Universidade do Minho e de uma empresa líder em inovação nos domínios do desenvolvimento, produção e comercialização de fios, a Inovafil. Na perspetiva de Juliana Cruz, investigadora da Fibrenamics responsável pelo projeto, “a criação deste núcleo proporciona aos promotores a oportunidade de partilharem as suas competências, sendo que, no caso da Inovafil, inclui aptidões de produção e comercialização, e, no caso da Universidade do Minho, aptidões relacionadas com o desenvolvimento e incorporação de conhecimento técnico-científico”.

Que resultados esperar

Com a constituição deste núcleo de investigação e desenvolvimento pretende-se a criação de fios de elevado desempenho funcional para utilização em produtos têxteis técnicos, principalmente para aplicações nos domínios do desporto, saúde e proteção pessoal, bem como automóvel e têxtil-lar.

Para além disso, é também intenção deste núcleo conceber e implementar um serviço de market intelligence, no sentido de se identificar continuamente as oportunidades e desafios inerentes às suas atividades; definir e estruturar projetos de I&D com base nas oportunidades identificadas; levar a cabo estudos de viabilidade tecnológica das opções identificadas e estruturadas; implementar os procedimentos estabelecidos no âmbito da norma NP4457 (certificação de sistemas de gestão da investigação, desenvolvimento e inovação); e divulgar e disseminar os resultados obtidos no âmbito das atividades levadas a cabo.
As questões de governança, transversais a todo o projeto, estão a ser também tidas em consideração, com o objetivo de garantir a sustentabilidade do núcleo no pós-projeto, através de um conjunto de ações complementares que suportarão o NIDYARN em diversos aspetos, incluindo gestão, recursos humanos, estruturas físicas, entre outras, garante Juliana Cruz.

Na opinião de Fernando Ferreira, diretor do 2C2T, “o resultado mais importante a ser alcançado é o estabelecimento na empresa de uma cultura e infraestrutura de inovação, que permita estender esta colaboração e modus operandi entre estas entidades, além do limite temporal do projeto em si”.

Um exemplo de perfeita simbiose

O NIDYARN é um exemplo de perfeita simbiose entre o meio académico e empresarial uma vez que proporciona a oportunidade dos seus promotores partilharem as suas competências, fomentarem o networking interno e entre si, e reforçarem as suas capacidades e o caráter de I&D na área dos fios funcionais.

A Inovafil, tendo no seu ADN a inovação, e com o intuito de inovar ainda mais e de uma forma estruturada, necessitou de procurar parceiros tecnológicos no mercado que cobrissem este seu objetivo. Para tal, “identificamos o 2C2T e plataforma internacional Fibrenamics, resultando esta união num projeto financiado pelo Portugal 2020”, refere Rui Martins, da Inovafil.

Tendo em consideração todo o “know-how” técnico-científico da Fibrenamics e a sua experiência na relação com o meio empresarial, a Fibrenamics desempenha aqui um papel fundamental na definição dos desafios tecnológicos a satisfazer no projeto e no pós-projeto, com particular destaque para a abrangência da divulgação dos resultados técnico-científicos.

O papel da Inovafil consiste, neste contexto, em materializar os projetos de inovação pondo ao dispor os seus recursos humanos, matérias primas e equipamentos para os concretizar. Um dos resultados esperados deste núcleo é a questão cultural da inovação na Inovafil: “esperamos que a inovação se faça de forma estruturada e organizada, enraizando-se no nosso ADN para além do tempo deste projeto. Acreditamos, também, que a realização de alguns projetos enriqueçam as coleções de artigos técnicos apresentados nas feiras”, realça ainda Rui Martins.

Na perspetiva de Rui Martins, o desenvolvimento deste projeto “está a ser muito enriquecedor e gratificante pois tratam-se de três equipas que partilham da mesma visão e pontos de vista sob a forte componente inovadora que o futuro reserva aos produtos têxteis. São equipas que, claramente, se complementam”. A transferência de know-how académico para a área industrial; a forma de estruturar a vigilância de mercado e tecnológica; e, a forte motivação interna para a inovação são algumas das mais-valias deste projeto, salienta ainda.

De acordo com Juliana Cruz, o trabalho com a Inovafil e o 2C2T está a ser muito frutífero porque “agrega valências complementares que facilita o alcance dos objetivos predefinidos e a sustentabilidade do núcleo”.

Por seu turno, Fernando Ferreira assegura ainda que fazer investigação, desenvolvimento de novos produtos ou transferência de tecnologia em estreita colaboração com o tecido industrial “é sempre uma mais valia para os centros de investigação, pois permite transferir e testar o conhecimento científico adquirido, contribuindo para a criação de riqueza do país. Por outro lado, esta relação com a indústria permite descobrir sempre novos desafios”.

A primeira apresentação pública

No passado dia 23 de junho, pelas 15h, decorreu no Hotel Meliá, em Braga, a primeira apresentação pública deste projeto. Esta atividade contou com cerca de 35 participantes, incluindo representantes de setores empresariais e de centros de investigação.

Na ótica de Juliana Cruz, “o balanço foi muito positivo, o workshop teve como mote a divulgação do núcleo e da sua estratégica a curto e longo prazo. Este evento contou com um grupo de participantes cerca de 35 pessoas que para este evento era o expectável, dados os objetivos do evento”. Para os próximos eventos, o objetivo passa por duplicar o número de participantes.

Consórcio

UM - Escola de Engenharia2C2TInovafil

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Instituto de Fibras Naturais e Plantas Medicinais

O Instituto de Fibras Naturais e Plantas Medicinais foi criado em 14 de março de 1930 e o seu objetivo consiste em realizar investigações sobre fibras naturais, com o intuito de fornecer matérias-primas de alta qualidade para a indústria. Nesta edição da newsletter, entrevistámos o Prof. Ryszard M. Kozlowski *, Diretor Adjunto da Ciência do Instituto de Fibras Naturais e Plantas Medicinais em Poznań, a fim de ficar a conhecer as linhas gerais desta organização.

1 — Como é que se apresenta o Instituto de Fibras Naturais e Plantas Medicinais (qual é a missão, visão e valores deste instituto)?

Ryszard Kozlowsky (R.K.) — O Instituto de Fibras Naturais e Plantas Medicinais (INF & MP), oficialmente IWNiRZ, tem realizado investigações desde há quase 90 anos na área das plantas fibrosas naturais: criação, cultivo, colheita, processamento primário e áreas de aplicação multifuncional em têxteis, têxteis técnicos, compósitos, utilização de subprodutos e também na criação, cultivo e novas aplicações de plantas medicinais. O Instituto possui seis quintas agrícolas experimentais e um único moinho experimental de processamento primário. Nós administramos o banco de genes de plantas fibrosas – linho, cânhamo e plantas medicinais, bem como o Banco Internacional de Fibras Naturais com centenas de amostras diferentes de fibras naturais recolhidas em todo o mundo. A nossa missão passa por realizar a investigação interdisciplinar relacionada com a produção economicamente viável de linho e cânhamo para produção de sementes, bem como de plantas e ervas medicinais. O Instituto também opera no Market Research Point, onde todos os produtos atualmente desenvolvidos são avaliados pelos clientes. O INF & MP está a editar também o único Jornal biológico bimensal de Fibras Naturais (publicado por Taylor & Francis Group, EUA), trimestralmente publicado pela revista Herba Polonica e pela Newsletter EUROFLAX (FAO/ESCORENA). O Instituto tem duas empresas: a LENKRAJ Ltd., responsável pela produção e entrega de sementes de linho para produção de petróleo, e a PLANTINOVA Ltd., fundada em 2014. Pretende-se através delas promover e comercializar o trabalho do INF&MP, como know-how, patentes, tecnologias e serviços de laboratórios, utilizando, por exemplo, uma ferramenta eficaz de comunicação empresarial.

O Instituto coopera com um conjunto muito vasto de organizações e centros mundiais na área das fibras naturais, incluindo universidades e centros de investigação na Europa, Ásia, África, América do Norte e do Sul. Emprega cerca de 200 especialistas, incluindo especialistas de alto nível na área de conhecimento de fibras naturais. O Instituto publicou o “Manual de Fibras Naturais”, em conjunto com a Woodhead Publishing, Cambridge, Reino Unido em 2012, e recentemente, em julho de 2017, um livro “Fibras naturais: propriedades, comportamento mecânico, funcionalidade e aplicações”, publicado pela NOVA Science Publishers, INC ., Hauppauge, EUA.

2 — Quando é que este instituto foi criado? Qual foi o objetivo por detrás da sua criação?

R.K. — O Instituto foi criado em 14 de março de 1930, em Vilnius. As autoridades governamentais polacas na nova Polónia independente decidiram que a terra da Polónia não teria apenas que alimentar as pessoas, mas deveria também fornecer matérias-primas fibrosas para tecidos e roupas domésticas. Após a Segunda Guerra Mundial, o Instituto foi transferido de Vilnius para Poznań, localizado na Polónia Ocidental. Este foi também o momento em que as fibras artificiais começaram a ser introduzidas no mercado têxtil.

3 — Qual é o principal objetivo desta organização?

R.K. — O principal objetivo do Instituto de Fibras Naturais e Plantas Medicinais em Poznań, na Polónia, consiste em realizar pesquisas sobre fibras naturais com o intuito de fornecer matérias-primas de alta qualidade para a indústria têxtil (com análise económica), como o linho e o cânhamo, e também a lã doméstica e a seda produzida localmente. Hoje em dia, o Instituto é uma cadeia muito importante na produção mundial de recursos de fibra natural renovável e desenvolve-se de forma competitiva a fim de continuar a investigação sobre fibras naturais e plantas medicinais para desenvolver produtos diversificados, ao mesmo tempo que se dedica a ensinar estudantes na Universidade de Ciências da Vida e estudantes estrangeiros.

O nosso objetivo prende-se também com a intenção de promover as fibras naturais como uma excelente matéria-prima para a confeção de roupas saudáveis e têxteis domésticos. O Instituto de Fibras Naturais contribuiu ativamente para as celebrações do Ano Internacional das Fibras Naturais 2009 (IYNF 2009), sugerido pela 33ª Sessão da Conferência da FAO, de 19 a 26 de novembro de 2005 e declarado pelas Nações Unidas.

Os objetivos do IYNF consistiram em:
• Sensibilizar para a importância da produção e consumo dessas fibras, quer ao nível das comunidades agrícolas, que as produzem, quer ao dos benefícios de saúde / bem-estar e meio ambiente, para quem as consome;
• Promover a eficiência e a sustentabilidade das indústrias de fibras naturais, facilitando a partilha de conhecimentos e os resultados da experiência aos níveis internacional e nacional.
• Promover uma parceria internacional eficaz entre as várias indústrias de fibras naturais e outras entidades relevantes que participarão da celebração do IYNF, e que será sustentada para poder funcionar ativamente no futuro. Por isso, ainda opera um importantíssimo site, criado em 2009, que é executado no link: http://naturalfibres2009.org/

A Iniciativa Discover Natural Fibers, criada inicialmente sob a alçada da FAO fruto das atividades do IYNF 2009, desenvolve e realiza atividades altamente proveitosas com o envolvimento de várias instituições que lidam com fibras naturais, incluindo INF & MP.

4 — Qual foi o motivo que o levou a trabalhar com fibras naturais? Quais são as potencialidades associadas a essas fibras?

R.K. — Quando me formei na Faculdade de Química Aplicada da Universidade Adam Mickiewicz em Poznań, em 1961, entrei em contacto com o Institute of Bast Fibers Crops (nome anteriormente atribuído ao INF & MP). A minha ideia na altura consistia em desenvolver compósitos – aglomerados.

No início do meu trabalho, não estava convencido de que as fibras naturais tivessem um futuro promissor. Nos anos 60 e 70, as pessoas ficaram fascinadas com as fibras artificiais e com os produtos que delas derivavam. Mas, no final de 1980 e 1990, essa ideia mudou e cada vez mais pessoas começaram a ansiar a utilização de fibras naturais em produtos indispensáveis. Em 2000 e 2003, recebemos no INF o Prof. Hiromi Tokura, da Universidade de Nara, no Japão, que nos convenceu a iniciar uma investigação comparativa entre o comportamento do corpo humano sob a influência de vestuário e de roupa interior e de cama com base em fibras naturais e com base em fibras sintéticas ou artificiais.

Hoje em dia abundam críticas relativamente a estas fibras artificiais, tal como o poliéster, que causa uma poluição terrível (pequenas micro e nanofibras são libertadas durante o processo de lavagem), perigosa para todos os seres vivos do planeta. Agora, a situação está completamente alterada, observa-se grande interesse nas fibras naturais, incluindo nas “bast plants”, como a cannabis sativa e também o cânhamo de marijuana. Muitas empresas inteligentes estão a fazer bons negócios no âmbito da área medicinal da aplicação de canabinóides e óleos essenciais, que podem ser obtidos a partir de panículas floridas de plantas de cannabis.

5 — Quando é que surgiu esta parceria com a Universidade do Minho?

R.K. — Em 2000, começamos a participar ativamente na COST Action 847 Textile Quality and Biotechnology, juntamente com muitos parceiros internacionais, incluindo representantes da Universidade Minho – Prof. Dr. Artur Cavaco-Paulo. Os resultados da investigação conjunta foram publicados no livro “Biotechnology in Textile Processing”, editado por Georg M. Guebitz, Artur Cavaco-Paulo e Ryszard Kozlowski, em 28 de outubro de 2006.

Uns anos mais tarde, a Universidade do Minho começou a organizar a ICNF – Internacional Conference on Natural Fibers, que é organizada de forma excelente pela Universidade do Minho e pelo Dr. Raul Fangueiro e a sua equipa. Durante esta conferência, decorreu uma reunião do Fórum de Inovação de Fibras Naturais e os especialistas discutiram a ideia de criar uma Associação Mundial de Investigação em Fibras Naturais.

6 — Considera que as Fibras Naturais são as fibras do futuro? Porquê?

R.K. — Sim, as fibras naturais são as fibras do futuro, porque são renováveis, sustentáveis, ecológicas e amigas do ambiente.

Não me choca, por enquanto, a coexistência e a concorrência entre fibras naturais e artificiais desde que, no âmbito da qualidade, não seja criada poluição ou qualquer dano para o meio ambiente.

O desenvolvimento na investigação e em diferentes tecnologias modernas de produção e processamento de fibras naturais está a fazer emergir as novas áreas para a sua aplicação. Na minha opinião, explorar o potencial das fibras naturais pode ajudar a desenvolver as áreas rurais do nosso planeta, especialmente as das regiões pobres, onde há abundância e diversidade de fibras. Como editor-chefe do Journal of Natural Fibers, foi-me dado a observar recentemente um aumento significativo na submissão de artigos de investigação sobre espécies novas e não novas de fibras naturais e as suas potenciais aplicações.

* Esta entrevista foi preparada pelo Prof. Dr. Ryszard M. Kozlowski, Diretor Adjunto da Ciência do Institute of Natural Fibres and Medicinal Plants em Poznań, e por Maria Mackiewicz-Talarczyk, MSc, Eng, assistente do Professor Kozlowski, Secretária da ESCORENA Focal Point.

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Nuno Belino, Docente no Departamento de Ciência e Tecnologia Têxteis da Universidade da Beira Interior (UBI)

Nuno Belino

UBI

Num passado já distante (anos 90) tive a oportunidade de laborar na maior empresa de lanifícios Nacional e uma das maiores da europa. Tendo sido responsável pela tecelagem, tive o ensejo de visitar algumas feiras de tecidos e de percepcionar que, já naquela altura, o custo/m de alguns dos nossos tecidos era muito superior ao proposto por alguns dos nossos concorrentes. Efectivamente, nalguns casos, o custo que imputávamos à matéria-prima era idêntico ao preço de venda dos nossos concorrentes.

Apesar da ressalva histórica o preâmbulo anterior permite enquadrar uma situação que ainda hoje se verifica para a esmagadora maioria das empresas pertencentes à ITV nacional. Os seus custos de produção são superiores aos dos seus principais concorrentes, nomeadamente, países como a China, Paquistão, índia, Vietnam, Bangladesh, Marrocos, Roménia, Ucrânia, Turquia, entre muitos outros.

Contudo, as estatísticas mais recentes, mostram uma ITV pujante e com grande preponderância nas exportações Nacionais.

Assim, se procurarmos uma explicação para esta aparente contradição, verifica-se que existem um conjunto de factores que estão a alavancar a competitividade das nossas empresas, nomeadamente: proximidade aos nossos principais mercados, fabricação de pequenas séries (especialmente com padronagem), máxima flexibilidade produtiva para pequenos tempos de resposta, qualidade dos produtos fabricados, design, “know-how” e empenhamento e muito esforço de todos os colaboradores envolvidos.

Adicionalmente, constata-se ainda que a grande maioria das empresas iniciou, desde há já alguns anos atrás, uma evolução para os chamados têxteis técnicos e que, paulatinamente, os empresários vêm diferenciando os seus produtos e as suas colecções, através da incorporação de fibras inovadoras que proporcionam um desempenho e/ou propriedades, que com as chamadas fibras convencionais, de per si, não poderiam obter de todo ou, pelo menos, de uma forma tão eficaz e económica. Deste modo, o leque de aplicações finais é alargado e, concomitantemente, abre-se caminho para novos mercados de maior valor acrescentado.

Historicamente, esta transformação teve início com a introdução das fibras não-naturais e artificiais nos anos 30 e 40 do século passado, especialmente, o poliéster, a poliamida e a viscose, que iniciaram uma (r)evolução tecnológica no têxtil. Inicialmente, estas fibras foram introduzidas numa lógica de baixo preço e de melhoria de durabilidade sendo comercializadas com valores tenacidade de, aproximadamente, 5g/dn e para algumas aplicações mais industriais como carpetes, reforços de pneus e mangueiras cerca de 10 g/dn. Posteriormente, nos anos 70 aparece uma segunda geração de fibras – fibras de alto desempenho – que possuem um elevado módulo e uma elevada tenacidade: 20-40 gf/dn vocacionadas para a fabricação de compósitos, aplicações aeroespaciais, marítimas, construção civil, transportes, balística, equipamento desportivo e de protecção pessoal, aplicações médicas, placas de circuitos impressos, etc.

Com a contínua evolução dos processos de extrusão e da indústria química apareceram no mercado todo um conjunto de novas fibras, comumente designadas por superfibras: aramidas (poliamidas aromáticas), fibra de vidro, fibras metálica, fibra de boro, fibra de flúor, Poliacetal, polietileno, Polifenilinosulfido (PPS), Poliéterétercetona (PEEK), PBO, etc. que visam proporcionar uma maior estabilidade química, maior resistência térmica, superiores propriedades mecânicas, elevado isolamento eléctrico,, etc.

Actualmente, existe no mercado uma enorme plêiade de fibras com funções específicas, fibras de alta tecnologia, cujas propriedades intrínsecas, dadas pela sua composição química e/ou estrutura molecular ou ainda pela inclusão de aditivos no processo de extrusão, permitem obter filamentos/fibras que apresentam propriedades superiores aos convencionais. Tipicamente, podem ser classificadas em três grandes grupos: Fibras de alta prestação e que possuem propriedades físicas ou químicas muito superiores às das fibras convencionais, nomeadamente, ao nível das propriedades mecânicas e térmicas etc.; Fibras de funções especiais que podem ter várias finalidades sendo, consequentemente, subdivididas em diversos grupos: bioactivas, termoreguladoras, electrocondutoras, conforto termofisiológico maximizado, etc. e, finalmente, fibras de alta estética que oferecem sensações agradáveis aos sentidos e foram desenvolvidas principalmente, com a intuito de emular as propriedades das fibras naturais e de potenciar a valorização estética.

Como consequência destas inovações emergiu uma nova indústria têxtil – não convencional – normalmente categorizada de acordo com os métodos de produção utilizados e/ou a finalidade dos produtos fabricados. Embora de cariz não universal é comum aceitar a seguinte subdivisão:

Vulgarmente designados por têxteis técnicos estes produtos são fruto de grandes desenvolvimentos científicos e tecnológicos em muitas áreas do saber, particularmente: na indústria química, na engenharia das matérias, na microoelectrónica, nas ciências de computação, na biotecnologia e na nanotecnologia.

Neste contexto, e retomando o preâmbulo, inicial é legítimo pensar que estas novas fibras – as fibras do e com futuro – proporcionam a possibilidade de criação de artigos têxteis diferenciadores com alto conteúdo tecnológico e de elevado valor acrescentado. A sua endogeneização personalizada pelas empresas da ITV Nacional pode constituir uma factor de competitividade acrescida e contribuir decisivamente para a sobrevivência da empresa.

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JEC 2017 — 14 a 16 de março, em Paris, França

JEC world

JEC

Paris, março de 2017. Esta é provavelmente uma das datas mais importantes para a área dos materiais compósitos. É por esta altura, 14, 15 e 16, que se realiza a maior feira de materiais compósitos do mundo, a JEC World. Ao longo destes três dias, a feira acolheu mais de 37 mil visitantes, 1300 expositores e mais de 900 reuniões promovidas pelo evento, ao longo dos 65 mil metros quadrados do Nord Villepinte Exhibition Centre, em Paris.

O objetivo deste ano foi perceber como é que os materiais compósitos podem responder aos desafios dos novos tempos, nomeadamente: ambiente, sustentabilidade, indústria 4.0, perspetivas de inovação e tendências futuras. Verificou-se, claramente, que o foco de interesse é o utilizador final e não a massificação das produções, como se verificavam anteriormente.

As áreas exploradas pelos materiais compósitos foram a Aeroespacial, a Construção, os Transportes, e Better Living, contemplando a energia, a sustentabilidade, o desporto, a área médica e os bens de consumo.

No que diz respeito à utilização de fibras naturais como elemento de reforço e elemento estético, foi possível observar que estes materiais evoluíram de estruturas orientadas direcionalmente, no sentido dos esforços, para estruturas não orientadas. Este facto deve-se, essencialmente, à utilização destas fibras na indústria dos transportes, onde são utilizadas nos processos de moldação por compressão.

Os produtos desenvolvidos com base em fibra de carbono foram o destaque deste ano da JEC. Estes materiais de performance mecânica de excelência dominaram os produtos técnicos apresentados. Curiosamente, nem sempre a performance da fibra, aliada a uma densidade reduzida, foi o requisito para a sua seleção, mas sim a componente estética da fibra. Ainda no que diz respeito à fibra de carbono foi possível observar diversos produtos onde já eram utilizadas fibras de carbono reciclado.

Um outro tópico de destaque da feira esteve centrado nas estruturas leves. Este mercado é cada vez mais explorado pelas “estruturas de favo”, onde é possível obtermos estes materiais a partir de cartão, polímero e alumínio. A novidade foi o desenvolvimento destas estruturas com diferentes geometrias no núcleo.

No que diz respeito à hibridização de estruturas de reforço, surgiram diferentes estruturas orientadas de carbono/aramida, carbono/vidro com diferentes orientações no plano, disposições e percentagens na estrutura.

Por fim, a técnica de processamento que mais cresceu foi a moldação por compressão, de compósitos de matriz termoplástica. Este crescimento deve-se essencialmente à necessidade de desenvolver cada vez mais materiais sustentáveis e recicláveis no final do ciclo de vida dos produtos. Aqui os polímeros, utilizados na matriz, com maior enfoque foram o PP (polipropileno), PLA (ácido poliláctico) e PEEK (Polyether ether ketone).

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Fibrenamics Green Innovation Open-day

Innovation Open Day


A Fibrenamics Green recebeu, uma vez mais, a comunidade académica e empresarial, no segundo Innovation Open-day. O evento que teve a economia circular e o design de produto como temas de destaque, decorreu dia 29 de março, no campus de Azurém da Universidade do Minho (UMinho).

Mais de 80 pessoas estiveram presentes na iniciativa, marcada pelo lançamento da plataforma Fibrenamics Green. Carlos Almeida, coordenador de marketing da Fibrenamics, apresentou o trabalho que tem vindo a ser desenvolvido pelo projeto desde o seu lançamento oficial em novembro de 2016, nomeadamente a identificação e recolha de resíduos, implementação de tecnologias e desenvolvimento de quatro modelos demonstradores com base nos resíduos da madeira, minerais, plásticos e fibras, que servirão como inspiração para o desenvolvimento dos produtos inovadores das próximas fases do projeto.

O trabalho em rede, proporcionado pela troca de materiais e partilha de serviços entre diferentes industrias, assume um papel cada vez mais importante para as empresas, especialmente no que diz respeito o reaproveitamento e reintegração de resíduos nos processos produtivos. Assentes no conceito colaborativo da economia circular, são várias as empresas que já integram a rede de parceiros Fibrenamics Green. As entidades que também quiserem fazer parte da plataforma poderão inscrever-se para serem integradas de acordo com as suas características, na cadeia de valor do processo de geração e valorização de resíduos.

Uma mudança inevitável

Inês Costa, especialista em economia circular no Ministério do Ambiente, explicou que o cenário atual exige medidas rápidas, pois as consequências ambientais são muito altas. Existe, de facto, um paralelismo direto entre o crescimento da industria com o aumento da poluição e a diminuição dos recursos naturais, sendo que “muitas das industrias estão condenadas devido ao risco do abastecimento forte”, por isso, é urgente mudar o paradigma do modelo económico das indústrias.

Sobre como liderar a transição de Portugal no caminho para uma economia circular, Inês Costa afirma que “a transição não é um processo fácil, mas é de todo inevitável”, salientando que se esta for “uma visão assumida por todos, e se todos em conjunto trabalharmos os benefícios ambientais, iremos contribuir muito para a economia portuguesa”. A adjunta no Ministério do Ambiente realçou ainda que projetos como o Fibrenamics Green são determinantes para a disseminação do conhecimento sobre a economia circular e a implementação de novas estratégias com grande valor ambiental.

“Queremos gerar ideias com grande eficácia”

Raul Fangueiro, coordenador da Plataforma Internacional Fibrenamics, reconheceu que muitas vezes o problema das indústrias passa por conseguir adaptar os produtos inovadores às necessidades do mercado. Apesar de se desenvolverem produtos com alto potencial, muitas vezes conseguir vender é um problema, nesse sentido “queremos que o mercado puxe a partir de inovadoras, quer sejam académicas ou industriais, e queremos gerar ideias com grande eficácia”, evidencia o professor.

Janelas para o Futuro

As indústrias criativas, no geral, e o design, em particular, serão um dos veículos privilegiados para a inovação sustentável. Para o designer David Bota, professor no IADE e na ELISAVA Barcelona, é urgente encontrar “um novo equilíbrio entre aquilo que produzimos e o que consumimos”. Na sua intervenção o designer de produto referiu a importância da utilização de novos materiais como fonte inspiradora, sendo que “o desafio do designer é colaborar num modelo maior”. O designer deve pensar de que modo pode influenciar a dimensão global do futuro, pois “precisamos de reconstruir um novo modelo, com uma nova visão”.

Criatividade em Rede

Para os estudantes e profissionais das indústrias criativas, as possibilidades colaborativas estendem-se ao Green Think Tank, uma rede de criativos estimulados por oportunidades identificadas no mercado através da Plataforma Fibrenamics Green, que promove o desenvolvimento de soluções sustentáveis, através da troca de ideias e do contacto interdisciplinar.

Este projeto de colaboração em rede foi introduzido por Tiago Sousa, designer de produto Fibrenamics Green. O principal objetivo do Green Think Tank é fomentar a criatividade e valorização de resíduos no mercado, de forma a juntar a comunidade criativa para se encontrar novos caminhos e novas soluções, reconhecendo que a criatividade pode ser o input necessário para a inovação.

Para dar a conhecer a experiência Green Think Tank foi lançado um desafio durante o Open-day, com uma atividade criativa que permitiu aos participantes interagir entre si. Joana Moreira foi uma das intervenientes do Green Innovation Experience. A aluna do terceiro ano do curso de Design de Produto da UMinho destacou a dinâmica do evento, assim como diversidade das ideias que surgiram. Após a experiência, Joana assegurou que pretende integrar-se nas próximas atividades do Green Think Tank, revelando que “a dinâmica foi boa, estou com curiosidade para o que se vai desenvolver daqui para a frente”.

O desafio foi assim lançado: todos profissionais e estudantes das indústrias criativas podem agora juntar-se à comunidade Green Think Tank através do formulário online e integrar uma rede de networking privilegiada.

O projeto Fibrenamics Green – Plataforma para o Desenvolvimento de Produtos com base em resíduos é cofinanciado pela União Europeia através do FEDER – Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional, enquadrado no NORTE 2020 – Programa Operacional Regional do Norte 2014-2020 com um custo total elegível de 552.856,83€, apoio financeiro da EU de 469.928,31€ e autofinanciamento de 82.928,52€.

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Workshop “Inovação nos Açores: do conhecimento para o mercado”

Azores

A Fibrenamics Azores organizou, em parceria com o Governo dos Açores, a Universidade do Minho, a Sciencentris e o SINEGE, na passada quarta-feira, dia 17 de maio, o Workshop “Inovação nos Açores: do conhecimento para o mercado”, que decorreu no NONAGON – Parque de Ciência e Tecnologia de S. Miguel.

Destinado ao tecido empresarial, aos jovens empreendedores, à comunidade académica da Universidade dos Açores, às autarquias locais e à sociedade em geral, o workshop debruçou-se sobre o tema da inovação, com especial enfoque no potencial de desenvolvimento do Arquipélago dos Açores.

A par da sessão de abertura, que contou com a presença do Governo Regional, da Fibrenamics Azores e do Nonagon, o workshop contou também com uma apresentação sobre as “Oportunidades de I&D a partir de materiais”, a cargo da Fibrenamics Azores. Ao longo deste evento foram ainda apresentados três projetos inovadores que estão a ser levados a cabo pelas empresas da região Marques Britas, Boa Fruta e pelo consórcio Albano Vieira/Facil Inova, e cujos objetivos se centram na valorização dos recursos endógenos do Arquipélago, com o intuito de criar novos produtos de valor acrescentado, ao mesmo tempo que foram formalizados e assinados memorandos de entendimento entre a Fibrenamics estas três entidades.

No workshop houve ainda uma tertúlia com o tema “Inovar nos Açores”, com a participação da Direção Regional da Ciência e Tecnologia (DRCT), da Direção Regional de Apoio ao Investimento e à Competitividade DRAIC, da Câmara do Comércio e da Indústria, da Universidade dos Açores e da Fibrenamics Açores. O evento terminou com um momento de networking.

Esta foi mais uma atividade de transferência de conhecimento dinamizada pela Fibrenamics Azores, que está já desde o dia 5 janeiro de 2016 a trabalhar a partir do NONAGON – Parque de Ciência e Tecnologia, em São Miguel.

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Smart Composites

Smart Composites

Na edição anterior foram dadas as conhecer as linhas gerais deste projeto cujo objetivo consiste no desenvolvimento de compósitos inteligentes, bem como de duas das tecnologias que estão a ser criadas neste âmbito: a sensorização e a mudança de cor.

Nesta edição pretende-se demonstrar que outras duas tecnologias estão a ser trabalhadas também no âmbito deste projeto, ao mesmo tempo que serão abordadas as potencialidades que estes compósitos inteligentes podem vir a ter no mercado.

O aquecimento

Para além da sensorização e da mudança de cor, a geração de aquecimento é outra das tecnologias que está a ser desenvolvida. Pretende-se dotar os materiais compósitos de aquecimento para um determinado fim que possa existir, de forma a promover conforto térmico, ou porque simplesmente é necessário que determinada peça seja aquecida.

A monitorização

A quarta tecnologia que está a ser trabalhada no âmbito dos materiais inteligentes está relacionada com a capacidade de monitorização e é sem dúvida, segundo Fernando Cunha, investigador da Fibrenamics, “um ponto importantíssimo que nós temos vindo já a explorar na área da construção”, em que é aplicada uma tecnologia ao próprio material que se utiliza como reforço (neste caso específico são materiais condutores, como é exemplo o carbono), e este material tem propriedades que permitem identificar o estado de deformação do material. Em termos práticos, Fernando Cunha explica: “eu tenho um compósito que é uma placa e, se eu fletir essa placa, eu sei exatamente qual é o nível de flexão que o material está a sofrer apenas através da monitorização do material”. Neste âmbito pretende-se, com este projeto, explorar uma propriedade interessante que é a piezorresistividade do material, ou seja, quando uma determinada corrente elétrica passa num material, ele, pelo facto de ser piezorresistivo, consegue dar a informação de que esta resistividade irá mudar em função da sua deformação. Esta característica intrínseca do próprio material permite, desta forma, estabelecer uma correlação com o estado de deformação. “Eu sei exatamente, se ele me dá a resistividade elétrica, que aquele ponto de flexão é um determinado valor que está pré-calibrado pela curva de calibração”, assegura Fernando Cunha.

4 tecnologias que podem ser combinadas ou viver separadamente

A sensorização, a mudança de cor, o aquecimento e a monitorização são quatro tecnologias que vivem separadamente ou que podem ser combinadas entre elas como acontece, por exemplo, se se quiser utilizar um pigmento termocromático e acelerar ou controlar o seu processo de mudança de cor. “Podemos acrescentar a tecnologia de aquecimento a esse material compósito e assim, de uma forma direta, estamos a controlar o processo de mudança de cor”, sustenta o investigador da Fibrenamics. Outro excelente exemplo pode ocorrer quando, num ambiente em que a temperatura está sempre a 23 ou a 24 graus, a combinação destas duas tecnologias poderá ser um veículo para se poder atingir uma determinada função ou requisito que se pretende ter com a mudança de cor num determinado espetáculo ou numa determinada hora do dia, em que as peças de mobiliário mudam de cor simplesmente por uma questão de design ou funcionalidade, ou de criação de um ambiente diferente.

Para que as tecnologias desenvolvidas sejam validadas, existe um parceiro da Fibrenamics na área dos compósitos que está a ser integrado neste momento, a Fibrauto. Esta é uma empresa de referência nesta área dos compósitos, principalmente termoendurecíveis e também na questão dos termoplásticos.

“Um projeto que coloca a Fibrenamics noutro patamar”

Este é um projeto que coloca a Fibrenamics noutro patamar no que concerne ao desenvolvimento de materiais compósitos. A nível interno está a permitir à Fibrenamics evoluir muito a nível tecnológico, porque, tal como Fernando Cunha conta, “a questão dos materiais compósitos viveu muito daquilo que eram os materiais leves, os materiais com reforços especiais, na inclusão de fibras naturais”, e foi necessário dar o salto através da introdução de tecnologia nos materiais compósitos e, a esse nível, a Fibrenamics irá dotar os seus recursos de capacidades que nos permitam integrar várias áreas, principalmente do conhecimento, numa área que era até então tradicional, como é a indústria dos materiais compósitos.

A nível externo, a Fibrenamics vai ficar com um portfólio de competências nesta área que irá permitir satisfazer as necessidades dos seus parceiros, uma vez que serão eles o motor de aplicação destas tecnologias. “Nós temos estas tecnologias, sabemos trabalhar com elas, sabemos adaptá-las, e estas tecnologias servirão para satisfazer uma necessidade muito específica dos nossos parceiros, como acontece sempre no processo de inovação: o nosso cliente chega cá e diz-nos que tem uma necessidade específica e nós temos de encontrar ou desenvolver soluções tecnológicas que nos permitam ir ao encontro das expectativas do desenvolvimento dos produtos inovadores que eles pretendem”, assegura Fernando Cunha.

Para transferir tecnologia é necessário, primeiramente, conhecê-la e testá-la. E este é um projeto que visa precisamente isso. No fundo, primeiro, desenvolver a tecnologia de base para, depois, transferi-la para o mercado. “Mais importante do que desenvolver as tecnologias é aplicá-las e que elas sejam úteis junto dos nossos parceiros e com isso permitam criar produtos inovadores, produtos que possam satisfazer a necessidade do mercado e que o mercado sinta a falta destes produtos com estas características em especial”, conclui o investigador da Fibrenamics.

 

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Fibrauto, uma empresa de referência no mercado nacional e internacional

fibrauto

A Fibrauto está implantada no mercado nacional desde 1997, em Vila Nova de Gaia, e tem dedicado a sua atividade à fabricação de componentes em fibra de vidro e materiais compósitos para diversos setores de atividade, com especial enfoque para o setor automóvel, ferroviário e urbanístico.

Qualidade, inovação, rigor e flexibilidade

Sustentada numa política constante de qualidade, inovação, rigor e flexibilidade, a Fibrauto foi alargando a sua área de atuação para os mercados internacionais, nomeadamente para Espanha, França, Bélgica e Suíça.

De forma a acompanhar o avanço tecnológico, esta empresa investiu numa moderna linha de fabrico aplicada aos seus diversos processos produtivos, tem investido fortemente na inovação, estando neste momento preparada para oferecer soluções inovadoras nos mercados onde opera.

Segundo Norberto Almeida, responsável pela produção da empresa, “a Fibrauto consegue diferenciar-se das outras empresas do setor devido à sua constante melhoria, quer nos processos, quer na diversidade de produtos e matérias-primas que está habilitada a fornecer. A conjugação das 3 empresas faz de nós um grupo importante para todos os nossos clientes e parceiros”.

3 empresas em pura simbiose

O grupo Fibrauto está dividido em 3 empresas: a Fibrauto, a Festruca e a SER-ERTM.

A Fibrauto exerce a atividade de fabricação de componentes em poliéster. Neste sentido, produz peças utilizando diversos tipos de processos produtivos, nomeadamente fabrico manual, infusão e projeção de resina e fibra, hand-lay-up, spray-up, RTM Light e maquinação robot CNC 6 eixos.

Por seu turno, a Festruca, fábrica de estruturas de carroçarias Auto, Lda, exerce a sua atividade em torno da fabricação de estruturas metálicas na área dos transportes, componentes metálicos para aplicações diversas, nomeadamente, mobiliário urbano.

Por fim, a SER-ERTM tem como atividade a produção de peças em fibra de vidro em processo de injeção de resina, o designado processo RTM Light (Resin Transfer Molding) – transferência de resina por injeção para molde. O Processo de moldagem RTM Light é muito usado na indústria para a fabricação de componentes de alta qualidade. A sua vantagem está na construção de peças com acabamento em ambas as superfícies, melhor controlo da tolerância da peça, redução da emissão de estireno num ambiente de trabalho mais limpo e principalmente boa produtividade pelo rápido ciclo de moldagem.

A estratégia por detrás da divisão foi simples, segundo Norberto Almeida: “separar as diferentes áreas em que cada empresa se foi especializando, fazendo com que a simbiose das 3 dê aos clientes produtos de elevada qualidade/preço e tempo de produção”. “Os nossos clientes olham para o nosso grupo como uma mais-valia do seu produto final, pois a diversidade de produtos que conseguimos fornecer com os diferentes processos e tecnologias, faz de nós o parceiro ideal e diferenciador do resto das empresas do setor”, refere ainda.

A Fibrauto e a remodelação do alfa-pendular

A Fibrauto tem, desde 2006, uma relação comercial com a EMEF (Empresa de Manutenção e Equipamento Ferroviário) e a CP (Comboios de Portugal), no que respeita ao fornecimento de componentes para os comboios existentes.

Em 2016 foi aberto um concurso público para a remodelação do novo alfa pendular e o grupo Fibrauto, como reunia todas as condições de fornecer um bom serviço, concorreu com mais 3 empresas estrangeiras.

Segundo Norberto Almeida, “a simbiose que existe no grupo Fibrauto foi fundamental para o sucesso desta operação, pois com a colaboração das 3 empresas o resultado está a ser um sucesso – e impactante – na Fibrauto tanto a nível nacional como internacional”.

Uma parceria que “fazia todo o sentido”

A Fibrauto e a Fibrenamics trabalham em parceria já há algum tempo e em diversos projetos. Norberto Almeida conta que, em 2011, numa das visitas a feiras internacionais que a Fibrauto faz regularmente, foi identificada a oportunidade de investir num projeto com fibras naturais. Como a Fibrauto tinha sido convidada para participar num programa que a Fibrenamics tinha levado a cabo sobre a divulgação do mundo extraordinário das fibras, a empresa verificou logo que promover uma tal parceria fazia todo o sentido.

No âmbito desta parceria, existem vários projetos, alguns já terminados, outros que estão a decorrer e muitos outros que se prevê surgirem em breve.

Para o futuro, Norberto Almeida é muito pragmático: “pretendemos seguir a política de inovação e crescimento, que temos seguido ao longo dos anos, na produção de peças em fibra”. Para tal, a Fibrauto pretende dar continuidade à política de investimentos em novas tecnologias, especialização dos processos produtivos e otimização dos recursos materiais e humanos, sempre focalizada na qualidade dos processos e dos produtos. Neste sentido, “contamos com o contributo e conhecimento da equipa Fibrenamics para conseguir chegar a esses objetivos”, conclui Norberto Almeida.

 

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“Materiais Compósitos Inteligentes” – Potencial de aplicação em soluções de engenharia

Materiais Inteligentes (Smart Materials) são aqueles capazes de responder, com alteração das suas propriedades intrínsecas, a um estímulo externo (tensão, deformação, temperatura, campo elétrico, campo magnético, etc…). Os materiais piezoelétricos, pela sua aplicação em tecnologia de sensorização e capazes de medir diferentes grandezas físicas (pressão, aceleração, deformação, etc…), são porventura aqueles com aplicação mais difundida no contexto da engenharia. No entanto, o leque de materiais inteligentes não se restringe aos materiais com características piezoelétricas e à capacidade intrínseca destes em gerarem corrente quando deformados mecanicamente ou alterarem a sua forma (deformando-se) quando uma diferença de potencial elétrico lhes é aplicada. Adicionalmente, merecem destaque no domínio dos materiais inteligentes: 1) os materiais (poliméricos ou metálicos) com efeito de memória de forma, cujas deformações podem ser induzidas (ou recuperadas) através da aplicação de campo térmico; 2) os materiais termoelétricos, cuja principal característica reside na conversão de um gradiente térmico numa corrente elétrica (efeito Seebeck), e vice-versa (efeito Peltier); 3) os materiais com características autorregeneráveis (Self-Healing) que permitem a “cura” do material através da regeneração local (por fenómenos intrínsecos ou extrínsecos ao material) da zona da fratura, e 4) os materiais com características magnetotérmicas que, quando expostos a um campo magnético oscilante, respondem com uma alteração (reversível) do campo térmico.

No domínio mais aplicacional dos Smart Materials deverá ser salientada a sua aplicação na obtenção de estruturas/componentes com características de auto-sensorização (Self-Sensing). As características intrínsecas de fibras com capacidade de condução elétrica (p.e., carbono) e/ou matrizes dopadas com nano fibras de carbono (CNF), permitem dotar as estruturas com a capacidade de auto-sensorização, através da leitura da variação local da resistividade elétrica da fibra de reforço (ou da própria matriz), variação esta que é correlacionável com o campo de deformações local gerado no componente. O interesse no desenvolvimento de estruturas com características de auto-sensorização é evidente pois torna-se possível obter estruturas com uma elevadíssima resolução espacial de sensorização sem a necessidade de instalar equipamento de sensorização convencional, o que implicaria um número de sensores tal que seria fisicamente limitativo.

A Critical Materials S.A. (CMT) tem vindo a desenvolver trabalho no domínio dos materiais Self-Sensing, para a deteção, localização e avaliação da severidade de danos estruturais, provocados por cargas de impacto em estruturas aeronáuticas. Na Figura 1 é possível visualizar um protótipo de estrutura compósita auto-sensorizada utilizado para a deteção e localização de dano estrutural.

Figura 1 – Protótipo de componente compósito (reforçado com fibras de carbono) com características self-sensing.

No domínio da sensorização embebida, é de realçar o trabalho de investigação que está a ser realizado no sentido da obtenção de fibras piezoelétricas que permitirão, tal como já sucede com a utilização de fibras óticas (ver Figura 2), a monitorização de deformações e, adicionalmente, atuar mecanicamente sobre a estrutura de forma a ajustar de maneira ótima a sua forma geométrica ao desempenho pretendido (morphing estrutural).

Figura 2 – Secção transversal de laminado de fibra com fibra ótica embebida, in: (Department of Aerospace Engineering, TMU, 2017).

Figura 3 – Esquema de fibra piezoelétrica de secção circular e retangular, in: (Zheng Wang, 2011).

No domínio dos materiais autorregeneráveis com processos de regeneração extrínsecos, é importante salientar a importância da aplicação de fibras ocas na conceção de estruturas vasculares transportadora de agentes de reticulação e de iniciação da reação de cura, para uma efetiva regeneração da zona danificada. Na Figura 4 é visível a fibra transportadora de agente de reticulação e a sua disposição no núcleo do laminado de fibra. É importante salientar que os métodos para a obtenção de um material compósito (de matriz termoplástica ou termoendurecível) reforçado com fibras são baseados, quase exclusivamente, em sistemas extrínsecos (sistemas vasculares ou sistemas baseados em cápsulas contendo agente de cura).

Figura 4a – Fibras ocas transportadoras de agentes de cura
Figura 4b – Fibras ocas embedidas no laminado de fibras de carbono, in: (Trask RS, 2007)

No domínio dos materiais com processo de autorregeneração intrínseco (normalmente com propriedades mecânicas inferiores) é de salientar a importância que as fibras de reforço possuem para assegurar um comportamento mecânico compatível com as solicitações de serviço. Recentemente, a CMT participou num projeto europeu (www.selfhealingelastomers.eu/) cujos principais objetivos passaram pela criação e posterior caracterização mecânica (e modelação numérica) de um elastómero com capacidade intrínseca de autorregeneração (através da interação de cadeias moleculares com ligações não-covalentes), onde fibras de aramida foram consideradas para incorporação no material de base, de forma a proceder-se à otimização (aumento do módulo de elasticidade inicial e tensão de rotura) das características mecânicas do material, sem comprometer significativamente a sua capacidade de autorregeneração.

Como evidenciado anteriormente, o campo de aplicação dos materiais inteligentes em soluções de engenharia é vasto e, do meu ponto de vista, especialmente indicado para a utilização em estruturas de desempenho crítico. De facto, as características de um material inteligente permitem, entre outro aspetos, a sua auto-sensorização, o controlo/otimização da geometria (morphing) e, em eventual caso de dano, a sua autorregeneração e consequente inibição de precursor de uma eventual falha estrutural catastrófica. No entanto, a incorporação destes materiais em estruturas/componentes em condições de serviço coloca novos desafios em termos de engenharia. De facto, o carácter multifísico desta família de materiais implica um conhecimento agregado em ciência de materiais, modelação numérica e engenharia eletrónica que é importante dominar, de forma a promover uma adequada utilização desta tipologia de materiais em soluções de engenharia.

Referências
Department of Aerospace Engineering, TMU. (2017). TMU-TMG-JAXA Join Project. Retrieved from http://aeronautics.sd.tmu.ac.jp/en/research_facilities/structures.html
Trask RS, W. H. (2007). Self-healing polymer composites: mimicking nature to enhance performance. Bioinspiration & Biomimetics, 2(1)
Zheng Wang, N. C. (2011). Piezoelectric fibers for sensing and actuation at ultrasonic and audio frequencies. Retrieved from http://www.rle.mit.edu/media/pr152/39_PR152.pdf

Paulo Antunes
Critical Materials S.A

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Materiais Compósitos Inteligentes

A utilização de materiais compósitos de reforço fibroso tem-se alargado consideravelmente ao longo das últimas décadas, devido às suas excelentes caraterísticas e propriedades. A relação desempenho mecânico/massa tem sido um dos fatores diferenciadores mais valorizados em aplicações destes materiais na área dos transportes, desporto, aerospacial e aeronáutica, medicina, construção naval, entre muitas outras. Para além disso, propriedades mais específicas como a ausência de corrosão ou insensibilidade a determinados agentes químicos têm igualmente representado uma mais valia importante no desenvolvimento de soluções na construção civil e arquitetura.

As fibras assumem um papel preponderante nos compósitos, sendo responsáveis por muitas das propriedades que garantem o seu desempenho nas mais diversas situações, que podem ir de um simples para-choque de um automóvel até uma prótese óssea para implantação no nosso organismo. Efetivamente, a paleta de fibras e estruturas fibrosas disponíveis permite desenhar as propriedades dos compósitos de acordo com os mais exigentes requisitos impostos por cada aplicação específica.

O futuro da utilização dos materiais compósitos passa sobretudo pela incorporação de inteligência, ou seja, torná-los capazes de pensarem e atuarem por si, adaptando-se às variações das condições do meio. Mudanças de cor e de forma, libertação de agentes reparadores e monitorização de deformações são apenas alguns exemplos do que o futuro nos reserve. Futuro esse que, em muitos casos, é já uma realidade. Este tem sido um dos principais pilares de atuação técnico-científica da Plataforma Fibrenamics em completa harmonia com as tendências identificadas para as diferentes áreas onde atua e com as expetativas da sua rede de parceiros. Neste domínio, importantes avanços têm sido conseguidos, contribuindo fortemente para uma afirmação de todos os agentes envolvidos à escala global.

Nesta newsletter, apresentamos os últimos desenvolvimentos do projeto Smart Composites da Fibrenamics, sendo que, na rubrica parceiros, damos a conhecer grupo empresarial Fibrauto, que apresenta impacto relevante e provas dadas no que toca ao materiais compósitos inteligentes. O artigo de opinião, desta vez, está a cargo de Paulo Antunes, da Critical Materials, que faz uma abordagem sobre o potencial de aplicação destes materiais em soluções de engenharia, partindo da sua experiência profissional. A rubrica de vigilância tecnológica aborda a JEC Composites, que decorreu em Paris, e que contou com a presença de uma equipa da Fibrenamics. Na rubrica Fibrenamics Azores apresenta-se um artigo sobre o workshop “Inovar nos Açores – do conhecimento para o mercado”, onde foram estabelecidos diversos protocolos de cooperação com entidades empresariais da região. Por fim, na rubrica Fibrenamics Green, dá-se a conhecer as incidências do Innovation Open-day que decorreu no final de março, na Universidade do Minho, em Guimarães, que teve a economia circular e o design de produto como temas de destaque.

Fibre the Future!
Raul Fangueiro

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